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Por amor ao Kimono

por Joana Ascensão

Aos 10 anos, Joana era uma criança tímida. Os pais acharam que um desporto a podia ajudar a libertar-se. O vizinho, que era treinador de judo, ofereceu-se para a levar a experimentar a modalidade. Mas Joana não lhe achou muita piada. Era uma modalidade muito masculina: havia falta de presença feminina na sala de treinos.

Então, mais uma vez, por força da vergonha, Joana deixou de aparecer.

Esta estória podia ter tido um final aqui, não fosse a insistência do professor Jorge Fernandes para que Joana Diogo voltasse a tentar, no Judo Clube de Coimbra. E quando voltou, já não largou mais aquela modalidade.

Joana Diogo (13 anos) com Joana Fernandes, no Torneio de Judo Formação AAC. © Joana Diogo

ENTRADA A PÉS JUNTOS

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O Jorge gosta sempre de levar os alunos a todas as provas. Então, eu comecei naquelas competições em que rapazes combatem contra raparigas; em que se escolhem os pares mais pelas alturas do que por outra coisa.

Joana Diogo

Visto como um desporto que desenvolve a força física e espiritual como um todo, o judo nasceu no Japão a partir de Jigoro Kano, professor de educação física. Mas só foi trazido para Portugal na década de 1910, numa demonstração feita por dois oficiais da Armada Japonesa.

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Com aquela idade, Joana não sabia que ia encontrar nesta arte marcial uma forma de estar na vida. Tão pouco desconfiava que um dia ia combater enquanto atleta de alta competição. No princípio, aconteceu tudo por acaso. Mas hoje sabe que a insatisfação constante e a enorme vontade de vencer, enquanto marcas da sua personalidade, foram essenciais para que pudesse traçar um caminho vencedor.

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Hoje, com 22 anos, a cinturão negro já ajudou a mostrar ao mundo que a força feminina portuguesa também dá cartas num desporto ancestralmente masculino.

Joana Diogo soma já 33 medalhas, nacionais e internacionais.

CONQUISTAS

Foi campeã nacional pela primeira vez em 2010, com 14 anos, e desde então nunca abandonou o pódio nacional, na sua categoria (-48kg). Fora de portas, em júniores, já conquistou alguns dos títulos mais importantes, incluíndo o de vice-campeã da Europa, em setembro do ano passado, e a medalha de ouro no African Open Casablanca, em março deste ano.

Apesar de ser uma atleta muito bem sucedida no judo internacional, Joana está a pensar licenciar-se em Fisioterapia, “porque o judo não dá para viver”. E, como a dela, há muitas estórias idênticas em Portugal.

Nesta modalidade, como em muitas outras, ser-se muito bom naquilo que se faz pode não garantir sequer a subsistência dos atletas.

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REVOLTA

Em geral, olha-se para os desportistas bem sucedidos como prodigiosos por conseguirem ter carreiras ímpares fora de portas. Mas é também comum o esquecimento de que, muitas das vezes, treinam todos os dias, várias vezes por dia, e ainda mantêm outro emprego, para o qual não foram talhados, porque o sonho de levar Portugal aos olhos do mundo não dá para pagar as contas.

O nosso país tem formado grandes judocas ao longo dos anos, mas o seu trabalho quase não é financiado. Poucas são as ajudas de custo vindas de patrocínios para que atletas como Joana Diogo possam ir a campeonatos internacionais; quase todo o montante vem dos clubes e, por vezes, os pais dos atletas têm que contribuir. Isto porque, ao nível das ajudas estatais, os apoios ficam muito aquém.

Âncora 1

A câmara (de Coimbra) apoia, mas com valores anuais muito baixos e que não dão para fazer face às despesas que o judo tem; mesmo sendo um desporto barato.

A vermelho estão os países para onde Joana já viajou, no decorrer de competições.

O SONHO DOS JOGOS OLÍMPICOS

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Estágio no Japão com: Joana Ramos, Eunice Santos, Ana Correia, Inês Ribeiro, Telma Monteira e Joana Diogo. © Ana Hormigo

Âncora 2
Âncora 2

Nomeada para o prémio de atleta feminina do ano passado, que perdeu para Filipa Martins (ginástica), Joana admite que há, ainda, muitos títulos a conquistar.

Sonha agora com os Jogos Olímpicos. O caminho já foi mais longo. Para já, espera habituar-se ao novo escalão, séniores, e espera que o fenómeno do desporto único se vá desvanecendo, ao longo do tempo, para bem da multiplicidade desportista em Portugal.

Apesar das contrariedades sentidas, remata dizendo que “não há nada que pague ouvir o hino português lá fora”.

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